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Projeto Caravana Paulista de Teatro.

10/06/2006

A Caravana é um dos resultados concretos da proposta de programas para fomentar a atividade teatral, reivindicada pelo setor de artes cênicas à Secretaria de Cultura do Estado. Apresentada ao Secretário Estadual de Cultura, o cineasta João Batista de Andrade, Cooperativa Paulista de Teatro (CPT) e a Associação dos Produtores de Espetáculos Teatrais do Estado de São Paulo (APETESP), em agosto de 2005 e aprovada em dezembro, o projeto visa promover a circulação da produção teatral por todo o estado.

 

SOBRE O ESPETÁCULO

O PORCO

 

O original Strategie pour deux jambons, de Raymond Cousse, foi publicado em forma de romance em 1978. Em 1979, seu autor fez uma versão para o teatro encenada por ele próprio. O sucesso foi enorme em toda a Europa. Desde então, a peça vem sendo montada em vários países. A versão que levamos ao palco é do dramaturgo e diretor Antonio Andres Lapeña, que fez também enorme sucesso de crítica e público na Espanha. A tradução é de Eliana Teruel.

 

O texto retrata um porco que relembra momentos de sua existência. Na reconstituição de sua trajetória, fala de seus antepassados, sua família, sua condição social e seus desejos. Não há metáforas. O que se ouve é o que se fala, ainda que prevaleça um jogo entre o que se expressa e o que se sente. Um jogo que se traduz em um passeio pelo “porão animal do homem a caminho do abate”.

 

O ator é o foco desta montagem, seu corpo em uma relação crua e sensível com a concretude do espaço onde se realiza o ato teatral. A origem desta encenação deu-se no Lince – Laboratório do Ator, do Departamento de Artes Cênicas, da Universidade de São Paulo, coordenado por Antonio Januzelli, que investiga as bases expressivas do ator contemporâneo.

 

A direção é de Antonio Januzelli, ator, diretor, professor e pesquisador das práticas do ator no Departamento de Artes Cênicas e na Escola de Arte Dramática da Universidade de São Paulo. Seu trabalho mais recente em direção foi no espetáculo “Oito”, com o Núcleo 53 da EAD. Como ator, seus últimos trabalhos foram “Kaspar”, com o Teatro dos Satyros (2004) e “Divertimentos em Bequadro”, obra que participou em 2001 do Festival Internacional de Teatro Experimental do Cairo/Egito.

 

Em cena está Henrique Schafer, graduado em Licenciatura em Artes Cênicas pela Universidade de São Paulo. Ator com formação técnica no Conservatório Carlos Gomes, de Campinas, vinha se dedicando exclusivamente a projetos pedagógicos teatrais junto a diversas instituições. Foi um dos indicados do primeiro semestre de 2005, ao Prêmio Shell de Melhor Ator.

 

A peça estreou em novembro de 2004, no Viga Espaço Cênico, cumprindo temporada até setembro de 2005.

Críticas

"O que os 20 espectadores (de cada vez) vivenciam durante 50 minutos é um mergulho paradoxalmente humano, doloroso, nas reflexões solitárias de um porco numa exigua pocilga à espera do abate: cada indagação, cada reflexão, cada reação passiva, cada grito de revolta, cada raro momento de paz interior, levam o espectador ao envolvimento visceral com o protagonista –o porco – na pele do ator Henrique Schafer, soberbo! Um triunfo também para o diretor (também professor d interpretação na USP) Antonio Januzelli. Um espetáculo modesto que dá de dez em muitos figurões por aí". 

Afonso Gentil, especial para o Aplauso Brasil, 4/7/2005

 

"O Porco (...) revela-se ao espectador curioso uma agradável surpresa (...) Diretor e ator acertam ao abrir "brechas" para a livre associação dos espectadores. Os silêncios são valorizados assim como uma linha de interpretação que evita qualquer "imitação" de porco e apóia-se na concentração de energia e não na sua dispersão. Henrique Schafer passa ao largo do histrionismo exibicionista (...) Januzelli faz ótimo aproveitamento da geografia do reduzido espaço cênico - escadas, porta, angulações - o qual evita atravancar, utilizando mínimos objetos cênicos. Sua encenação por mérito jogar muitas fichas num elemento essencial ao fenômeno tetral: a imaginação do espectador, a qual procura estimular com delicadeza."

 

Beth Nespoli, jornal O Estado de São Paulo, Caderno 2, 21/01/2005

 

 

"A atuação de Schafer é simplesmente perfeita (...) O texto do francês adaptado pelo espanhol é de uma inteligência inegável (...) Um bom uso do espaço do porão do Viga, graças às marcações precisas e certeiras que compõem a excelente direção de Antonio Januzelli (...) Todas essas qualidades fazem de "O Porco" um espetáculo imperdível"

 

Maria Lúcia Candeias, jornal Gazeta Mercantil, 21/01/2005

 

“Nos atuais tempos de carência de incentivos à produção teatral, a saída é investir no marking de cenários espalhafatosos e atores famosos ou reduzir o teatro ao seu essencial, recolhendo-se em teatros minúsculos e improvisados, para reinventar o novo. Nessa tendência que felizmente se multiplica e salva a lavoura, "O Porco", monólogo dirigido por Antonio Januzelli e representado por Henrique Schafer, é a montagem que mais honra o teatro “underground” (...)

(...) No aparente improviso do espaço, no entanto, percebe-se logo um minucioso projeto de luz com excelente operação, e o figurino que faz o rústico se tornar sofisticado.

E isso acompanha admiravelmente o texto. Seu tema faria pensar em um deboche escatológico; no entanto, o porco de Raymond Cousse tem a dignidade dos clowns de Shakespeare. Frente à morte iminente e que ele sabe inevitável, sua sucessão de argumentos, sem nunca apelar pelo patético nem para o grosseiro, é inesquecível. Não denuncia a sua condição, mas a reivindica em nome de sua dignidade. Um porco cartesiano, que tirando sua força da sua serenidade vai abrindo significados cada vez mais abrangentes para a a vida.

(...) Reforçado pela tradução, que ao se basear na versão espanhola diminuiu o humor mais solto dos trocadilhos do original francês, o mestre Januzelli, com seu olhar de Lince, conduz seu discípulo Henrique Schafer por uma partitura preciosa, que faz vibrar silêncios e alterna ritmos e tons levando a arte da ironia a seu ponto mais sofisticado.

Falando olho no olho com a platéia, incluindo-a sem constrangê-la, o desgaste físico e emocional de Schafer é enorme, mas a preparação de anos para esse espetáculo faz dele o cartão de visitas de um ator a não se perder de vista.”

 

Sérgio Salvia Coelho, Ilustrada, Folha de São, 02/02/2006

“(...) no caso de O Porco, hit no circuito underground, vale a máxima de que menos é mais. Sem artifícios cênicos, vêem-se a mão firme do diretor Antonio Januzelli e a irretocável atuação de Henrique Schafer, indicada ao Prêmio Shell.”

 

Revista Veja São Paulo, seção Veja Recomenda, 22/02/2006